sexta-feira, 19 de março de 2010

O Impacto da notícia!


É muito comum que no momento em que recebemos a notícia da Síndrome de Down nossos sentimentos estejam confusos e embaralhados.
É uma carga emocional enorme, afinal deparamos nesse momento com uma situação completamente diferente da que tínhamos planejados para nossa vida e a de nosso filho.
Dia 14.03.2009, sábado, era o tão esperado momento, com a minha cesareana marcada para a tarde, acordei cedinho e já tomei aquele café da manhã caprichado porque a partir das 08:00h eu já não poderia comer mais nada, somente tomar água.
Meu Deus, como eu estava nervosa. Não saía do quartinho dela, só imaginando minha volta pra casa que seria com ela nos braços. Eu e meu marido tentamos deixar tudo prontinho pra não esquecermos nada: máquina, filmadora, bolsa da princesa e todas aquelas coisas que papais babões fazem para tudo sair perfeito. Minha mãe e minha sogra chegaram em casa por volta das 10:00h da manhã. Minha mãe toda ansiosa e minha sogra mais sossegada, afinal ela é enfermeira e já está acostumada com toda essa euforia. Ela me deixava tranquila.
Onze horas saímos de casa para o hospital. Chegando lá demos entrada na papelada, fui fazer os exames de rotina e graças a Deus estava tudo bem com a nossa pequena.
O Dr. chegou no hospital por volta das 15:00h. Subimos pro quarto e lá fiquei esperando o momento de ir ao centro cirúrgico.
Nossa! Parecia que a hora nunca iria chegar... Era um entra e sai de enfermeiros no quarto que me deixava doida. Eles me enchiam de perguntas e eu nervosa perguntava sobre tudo: como seria a anestesia, se a bebê viria pro quarto ficar juntinho de mim no mesmo dia, nossa, uma loucura! Até que vieram me buscar, deram-me uma daquelas roupas estranhas de hospital, toda aberta, sabe?! Aff, um terror! rsrs! Mas lá fomos nós, a família inteira me acompanhou.
Chegando no centro cirúrgico não sei o que me deu, mas eu não parava de chorar, de tremer, suava frio como se algo me dissesse que alguma coisa iria dar errado. Meu médico veio até mim e disse pra eu ficar calma, pois estava tudo bem e que logo eu estaria com a Lara nos braços. Aquilo me alcalmou um pouco, mas eu estava com medo, MUITO MEDO.
Entrei naquela sala fria e logo veio a tremedeira, meu marido até então estava se trocando para poder vir filmar o parto, o anestesista já estava me explicando que ele só entraria depois que eu estivesse anestesiada. Fiquei mais aliviada depois da anestesia pq sabia que faltava pouco pra minha filhota nascer. Meu marido entrou e eu comecei a passar muito mal, enjôos, tonturas, vontade de vomitar, queria que toda aquela aflição acabasse logo.
Assim que começou o parto eu sentia como se estivesse tirando meu coração junto, porque era uma pressão muito forte, mas às 17:43h a Lara nasceu, com 2.640kg e 45cm no hospital Sepaco. Nasceu sem chorar, sem dar nenhum sinal de que estava viva. Foi o momento mais desesperador de nossas vidas, eu pedia pra dar uns tapinhas na bundinha dela, eles davam e nada; queria saber o que estava acontecendo e nada de ninguém abrir a boca! Foi quando a pediatra passou com a minha filha do meu lado que pude ver aquele rostinho tão diferente dos outros bebês, eu vi os olhos da minha anjinha e sabia que algo estava errado, gritava querendo saber como ela estava, mas todos pareciam estar em choque, foi quando a médica se abaixou e me perguntou: - Durante o seu pré natal houve alguma suspeita de a sua neném ter Síndrome de Down? MEU JESUS!!! Eu queria morrer aquela hora, JURO! Eu queria desaparecer, queria que fosse apenas um pesadelo, mas não era, eu sabia desde que a vi pela primeira vez mesmo que de longe, minha bebê era diferente. Meu mundo acabou naquela momento, senti uma vontade imensa de sair dalí correndo, sentia medo de não saber criar minha filha, tive dúvidas, fiquei insegura, mas quando eu senti o cheiro, o calor e a pele da minha pequena Lara eu descobri que ela poderia ter tudo, mas que meu amor era imenso e imortal, capaz de passar por tudo isso sem desmoronar. Tiraram ela de mim muito rápido, ela precisava de oxigênio pois havia começado a fazer o primeiro cocozinho dentro da minha barriga - que eles chamam de mecônio - e com medo que ela aspirasse os médicos precisaram agir rápido. Por isso ela não chorava e nem se mexia direito. Depois que a levaram eu fiquei completamente sem chão, perguntava pra Deus porque isso tinha que ter acontecido comigo, porque comigo?? Eu estava em choque. Por mim não via ninguém, não falava com ninguém, foi como se meu sonhos e tudo o que eu planejei tivesse ido por água abaixo.
Voltei pro quarto e todos estavam lá, minha mãe era a única pessoa além do meu marido que eu queria ver, e junto chorar... Não pegava no sono e só no dia seguinte consegui descansar um pouco. Mas como se não bastasse, logo de manhã uma das pediatras que foi até o quarto nos explicar o que era a Síndrome de Down falou também que Larinha precisava fazer um exame chamado ecocardiograma pra detectar se ela teria alguma cardiopatia congênita. Eu jurava pra mim mesma que não consegueria passar por todo aquele sofrimento que parecia não ter fim! Logo a tarde chegou, e com ela a confirmação dos exames: a Lara era sim cardiopata, e teria que fazer uma operação assim que ganhasse mais peso, para que o coração funcionasse normalmente. Nossos familiares nunca nos abandonaram, sempre estavam presentes. Eu e o André sofremos muito com tudo isso, mas com o passar das horas, cada vez que iria até o berçario tentar amamentar minha filha meu amor por ela só aumentava. A primeira vez que a segurei no colo meu coração parecia que ia sair pela boca! Ela não pegava o peito, ficava cianótica (roxinha). Então precisava rapidamente ir para o isolete para ficar no oxigênio. Não pude ficar com ela no quarto nem um minuto sequer. Via todos aqueles quartos cheio de bebezinhos e me sentia tão vazia por não ter minha flor perto de mim. Mas durante o tempo que fiquei no hospital fui conversando com Deus e ele foi me confortando como se me falasse " - Filha, calma... Isso vai passar e você será muito feliz com essa criança!" Chegou o dia de deixar a maternidade e deixar minha filha lá. Ela precisava ficar na UTI neonatal pra poder se recuperar melhor... Foi como se tivesse deixado metade do meu corpo junto com ela, fui até onde ela estava e pedi chorando pra que saísse logo dalí e fosse pra casa conhecer o quartinho que a estava esperando.
Fui pra casa e ao me lembrar do desejo que tinha de chegar com minha filha nos braços, mais uma vez achei que não suportaria tamanha dor. Descansei um pouco naquele dia, mas meu pensamento queria minha filha comigo, no dia seguinte voltamos ao hospital pra transferir a Lara pra Santa Casa de Misericódia. Lá a Lara foi se recuperando a cada dia, ficou 8 dias internada e finalmente consegui levar minha florzinha para casa, QUE ALEGRIA!!!
Depois de tanto sofrimento aprendi que não importa o que a Lara tenha e muito menos me importam as barreiras que vamos ter que ultrapassar, pois com ela temos força e muita fé que tudo dará certo.
A Lara foi o presente mais lindo que nós poderimos ganhar!!! Nos traz muita felicidade e muita paz!!!

quinta-feira, 18 de março de 2010

BEM VINDOS À HOLANDA!

- Este texto fez uma grande diferença em nossas vidas e tivemos acesso a ele pouco tempo depois da nossa pequena nascer! Aproveitem!


Ter um bebê é mais ou menos como programar uma viagem de férias fabulosa para Itália. Compra-se um montão de revistas turísticas, fazem-se planos maravilhosos de passeios inesquecíveis, tenta-se aprender algumas palavras em italiano, é uma grande emoção.
Depois de tanta ansiedade, finalmente chega o dia da grande viagem.
Todos os amigos e a família aparecem para desejar boa sorte. Após certo tempo de voo, o avião aterrissa, e a comissária de bordo anuncia:
- Bem-vindos à Holanda!
Holanda?! Como Holanda? O voo era para Itália. Deveriamos estar na Itália. Toda a nossa vida sonhamos em ir para Itália.
Entretanto, houve uma mudança no plano de voo e o avião foi parar na Holanda. E vai permanecer lá. Não há possibilidade de voar para Itália.
O importante de toda essa situação é que, ao menos, ela não nos levará a um lugar horrível, desagradável; é apenas um local diferente. Há de se sair, fazer compras e adquirir mapas e guias, e vai ser necessário aprender um novo idioma e conhecer muitas pessoas que nunca se pensou antes em conhecer. Mas trata-se apenas de um lugar diferente, com um ritmo um pouco menos apressado do que o da Itália. E, uma vez na Holanda, após a agitação ter passado, olharemos ao redor e começaremos a descobrir que a Holanda tem moinhos de vento, tulipas e belezas únicas que, antes de aterissar ali, nao poderíamos sequer imaginar.
Todos no mundo estão tão ocupados indo à Itália e voltando de lá; todos se vangloriam das maravilhosas férias que passaram, por isso podemos, às vezes, nos flagrar pensando: '' Era ali onde eu deveria estar''.
Entretanto, essa dor vai desaparecendo aos poucos. Nós nos sentiremos privilegiados por conhecer outros países, outras línguas, outros costumes, e começaremos a notar que o mundo é bem maior do que a Itália, e que as fronteiras antes intransponíveis começarão a cair, tornando-nos cidadãos do mundo, bem mais sensíveis às belezas e mistérios da vida.
Contudo, se passarmos a vida lamentando por não ter chegado à Itália, nunca teremos o espírito livre para desfrutar o que há de mais especial e mais precioso na Holanda.